Entrevista muito gostosa com Tatiana Pavanello, terapeuta alimentar e cozinheira, falando sobre sua transição do mundo corporativo (16 anos de carreira em multinacionais na área de Supply Chain) para sua paixão pela comida.

Desde de sua viagem de 18 meses pelo mundo com um bebe de 1 ano, os mitos e paradigmas quebrados até as reflexões que a levaram a repensar sua vida e dar nova forma ao seu futuro.

Uma conversa muito inspiradora e super pé no chão sobre as dores e as delícias de buscar sua verdade e uma vida mais plena. E a satisfação de reconhecer suas prioridades e poder viver em sintonia com elas.

Assista o vídeo ou leia a entrevista completa abaixo.

K3: Oi Tati, tudo bem?

TP: Tudo bem e você, Ká?

K3: Super bom receber você aqui depois de tanto tempo…

TP: Muito tempo, obrigada pelo convite!!

K3: Tati, eu queria conversar hoje com você a respeito das sua últimas aventuras, sua viagem e tudo mais que você anda fazendo… Vamos começar com sua grande viagem, que eu acho que é uma coisa que muitos de nós tem vontade de fazer… Então eu queria que você contasse um pouco como foi o planejamento, como que foi a viagem, como surgiu a ideia de viajar com uma criança pequena, conta pra gente como foi isso…

TP: Eu venho do mundo corporativo, eu tenho 16 anos de carreira, e há uns 6 anos atrás eu comecei a guardar grana pra mudar, eu sempre tive o sonho de empreender. Mudei um pouco minha forma de consumo, comecei a priorizar o que eu ia gastar de dinheiro, com este objetivo de guardar uma grana. Porque eu sei que para empreender, você precisa de uma grana para se estabelecer. Mas naquele momento, sem muitas ideias claras de nada. Simplesmente assim, “vou guardar porque uma hora eu vou precisar”. E eu também tinha aquela vontade de mudar um pouco, fazer uma loucura com meu marido, isso também fazia parte das nossas conversas.

Além de um certo descontentamento com minha vida, com meu equilíbrio de vida. Eu sempre fui muito workaholic, sempre gostei de trabalhar muitas horas e aí na eminência de ter um bebê, comecei a pensar que não ia fechar as contas, o dia só tem 24horas.

“Então isso tudo começou a aumentar meus conflitos internos de crenças e valores, que não necessariamente batiam com o que eu fazia no dia-a-dia, e meus gostos pessoais que estavam cada vez mais afundando, porque eu estava deixando de lado o que eu realmente gostava (e quem sabe poderia virar um negócio ou uma carreira).”

Quando eu saí de licença, que aí você fica em casa e tem um trabalho muito pesado com o bebê, mas é um trabalho muito físico, muito braçal e a cabeça fica voando o tempo todo, eu comecei a pensar muito nesse lance do empreendedorismo, porque eu tinha tempo para pensar. E conversas, conversas, conversas com muita gente, com meu marido, com amigos, com familiares para saber se eu não estava muito louca, com filho pequeno querendo largar tudo.

E quando eu voltei de licença, no primeiro mês eu vi que não encaixava mais, com a minha vida, com o que eu acredito, com o meu bebê, com os meus horários, com o que eu tenho vontade de fazer. Eu comecei a acordar neste mês, todo dia eu levantava da cama e falava “eu não estou acreditando que eu estou indo fazer o que eu estou fazendo” . Que é contra muita coisa do que eu acreditava

Embora essa reflexão já tenha vindo de 5, 6, 7 anos atrás, a decisão em si, foi muito simples, foi uma noite, jantando. “Vamos largar tudo e vamos faz um sabático? Vamos.” Foi sem pensar, aí no dia seguinte agende acordou e “Vamos mesmo? Vamos, vamos fazer as contas.”

Aí fomos para a parte de planejar de verdade, fizemos as contas, vimos o quanto aquela grana que a gente tinha guardado daria para gente viver dentro dum padrão de vida que a gente já tinha estabelecido de acordo com as nossas prioridades, com um consumismo super tranquilo. Aí foi uma fase muito gostosa, começamos a planejar para onde queríamos viajar, mas também tínhamos que pensar no bebê, no Chico, para onde ele pode ir, para onde não é legal, se tem furacão, não tem furacão, período de chuva, período de sol, a gente fez todo esse plano junto com o plano financeiro e pedimos demissão. Do dia da decisão até o dia que a gente pegou o primeiro avião foram 5 meses.

O Chico nunca teve problema, eu nunca tive receio, eu sempre estive muito tranquila com minha decisão, é claro que tem o cuidado de pensar na alimentação dele, ele pode ficar doente. Num país muito diferente tipo China. Ele pode ter algum problema que a gente tenha que voltar para casa. Mas tudo isso bem pesado foi me tranquilizando para levá-lo.  A gente viajou ele tinha acabado de fazer um ano.

K3: Pena que ele não vai lembrar muita coisa né.

TP: Não vai, mas eu acho que tudo isso faz parte da formação dele, da psicologia dele, do caráter, da parte emocional. Mas com certeza ele vai querer ir de novo né. Com certeza quando ele tiver 18 anos ele vai querer fazer essa viagem.

“Mas foi muito interessante em muitos aspectos. Muitos mitos foram quebrados dentro de mim. E dentro da cabeça de quem acompanhou essa viagem. Porque pegar um bebê não ir para um resort, sem ninguém para cuidar, sem babá sem escola, sem nenhum suporte externo.”

Teve um lado muito interessante de quebrar esse paradigma. Por que dá para viajar com criança. Não sei se para todos os lugares do mundo, mas para muitos lugares do mundo. E para lugares bem até selvagens eu diria. O Chico nunca teve problema nenhum. Ele nunca teve que tomar remédio Nunca precisou de médico. Ele amamentou até 2 anos, então isso ajudou muito, porque no perrengue, estava com sede, estava com fome, estava ali fácil para resolver. Então isso foi um grande salvador em vários aspectos, mas tinham outros perrengues, porque a gente ficava pipocando de cidade em cidade/país a cada 7 dias, então tem um lado incrível que você conhece coisas maravilhosas, tem dias sensacionais, mas tem dias que são puros dias de transferência. Pegar ônibus, pegar taxi, avião, ônibus, trem, pegar metrô, com mala, com criança. A criança faz birra, criança tem fome, a criança tem sono. Então isso é pesadíssimo, porque tudo que acontece em casa acontece lá fora. Acontece no aeroporto, eu já troquei fralda até em escada de igreja.

Mas eu me joguei nessa situação de corpo e alma, então isso trouxe uma certa leveza para a situação, porque eu não fiquei assim “ah mas eu podia estar em casa com suporte, com conforto, com ajuda externa, minha mãe, a escolinha”. E Foram 18 meses assim, de pauleira né.

Então, nesse meio tempo, tem o Chico, tem toda a execução do plano de viagem, eu entrei numa viagem interna, que foi inacreditável, porque, como eu falei eu trabalho desde os 17 anos, sempre no mundo corporativo, então com 16 anos trabalhando no mundo corporativo eu sempre fui um crachá. Eu sempre tive nome sobrenome e cargo. Depois que passou 2 meses da viagem, caiu a ficha que eu estava desempregada. “Quem sou eu não trabalhando 12, 13, 14, 15 horas por dia?” Eu comecei a me sentir extremamente ociosa. Mesmo viajando, mesmo com a criança, comecei a me sentir inútil. Nos piores momentos pensava “O que que eu estou fazendo? Eu estava viajando em lugares incríveis e, ao mesmo tempo, eu estava numa crise interna, numa crise de identidade. Especialmente no começo, depois de passado 2 meses, que é meio a farra, o novo. Mas depois, durante uns 6 meses, foi um mergulho interno, eu comecei a fazer terapia por Skype, com uma a profissional brasileira, porque eu pensei: “meu, eu preciso de ajuda. porque eu estou perdendo os parafusos”.

Então, foi muito interessante esse momento, estar jogada no mundo, mas estar muito aqui dentro, buscando de fato o que eu queria e buscando de fato quem sou eu… Sem o crachá.

K3: É sair da sua zona de conforto talvez tenha trazido esse turbilhão de reflexões né?

TP: Totalmente! E a adaptação… Toda semana numa cidade nova, casa nova (eu sempre ficava em casa), você tem que ir ao mercado, você tem que conhecer o bairro que você está, mercado, farmácia, restaurante. Então essa adaptabilidade que você precisa desenvolver em viagens mais longas também te deixa um pouco exaurida. A hora que você se acostuma com o lugar, você já tem que fazer mala de novo né. E vamos embora.

Por isso que os primeiros 8 meses foram assim, um misto de sentimentos inacreditáveis. Às vezes eu estava num lugar maravilhoso, que eu queria muito conhecer, mas estava mal, estava cansada fisicamente e exausta psicologicamente porque eu estava com pensamento muito discrepante dentro de mim.

E eu vejo isso como um lado muito terapêutico de viagens a longo prazo, porque você se vê em situações totalmente fora da sua zona de conforto.

“Você não é mais quem você foi, no meu caso por 16 anos. Por exemplo, você já não levanta mais a hora que você levantava. não tem uma rotina, não tem chefe, não tem mais que mandar e-mail, não tem que responder ligação, não tem que fazer nada. Então o que que eu vou fazer? Encarar esses pensamentos… Porque quando você fica mais ocioso de atividades, você tem que encarar você mesmo”

Aí você começa a encarar suas bruxas, começa encarar suas sombras. Então foi muito terapêutico para mim. Com essa ajuda psicológica que eu tive, com uma mulher incrível aqui do Brasil, que a gente fazia uma sessão a cada semana ou 15 dias. Então eu consegui sair desse vale emocional.

E no final, nos últimos seis meses de viagem, foi muito mais leve para mim. Tudo Foi incrível, mas no final parece que eu desabrochei e aquela lagartinha virou finalmente uma borboleta. Eu estava muito mais bem resolvida, eu estava muito mais tranquila com o rumo que minha vida estava tomando, estava muito claro que não queria voltar para o mundo corporativo, porque teve esses momentos onde eu falei “eu quero voltar!.” É uma questão de segurança, porque a minha segurança estava lá. Então às vezes eu tinha a sensação de que eu estava me afastando da minha segurança. Era muito louco, imagina eu larguei tudo para depois querer voltar? Tive a coragem de largar tudo e depois querer voltar?

Então, no final eu tive um processo de libertação mesmo. Agora eu sei o que eu quero, eu sei o que eu não quero, principalmente o que eu não quero. Eu tenho muito claro quais são minhas prioridades. Eu tenho Claro quais são minhas vontades. O que vai me fazer feliz. Acordar todo dia e ir cuidar da minha vida. Esse processo foi muito intenso, muito intenso.

K3: E nesse processo, quais foram os maiores mitos, os maiores paradigmas que você quebrou dentro de você? Conta um pouco para gente.

TP: Acho que hora que você começa a ver o mundo e conhecer gente.
Conhecer gente é uma das coisas mais legais que tem porque eu comecei a ver tantas formas de vida. Tem tanto jeito de viver ,tanto jeito de ganhar a vida. Tanto jeito de ganhar dinheiro e viver bem. Ganhar dinheiro e viver bem dentro do seu objetivo. Eu conheci muita gente com objetivos similares aos que a gente estava conversando,

“Quanto eu quero para viver, o quanto que eu preciso para viver? Para viver do meu jeito que não tem nada a ver com imposições da sociedade”

Você até coloca o ego um pouco de lado, você coloca a vaidade de lado e entende os seus vazios que você quer preencher com consumismo, que não são realmente importantes para sua essência. Aí você começa a colocar tudo isso em perspectiva. Tudo isso conhecendo gente. Eu me questionava muito quando eu conhecia pessoas que eu considerava interessantes: “Olha só como essa pessoa tá vivendo…” E eu não estou falando nem dessa galera do tipo nômades digitais, que vivem rodando o mundo viajando, porque não é o que eu quero. Eu gosto muito de viajar, mas não como modo de vida. Conversando com gente do local mesmo, comunidades locais, pequenos negócios, negócios extremamente sustentáveis. No meu caso, sou muito aficionada por comida, por alimentação, por saúde. Então eu ia sempre com esse mote para os meus passeios. Ia conhecer os mercados. E tem alguns lugares do mundo que tem linhas de alimentação que me encantam. Então isso foi começando a me fazer entender… eu pensei: “Cara é isso!”

Tem uma coisa interessante nesse processo todo, quase depressivo e de sair disso. Isso também me deixou muito emotiva e com a intuição mais apurada. Eu sempre fui muito mais racional. Eu deixei meu lado emocional aflorar. Porque isso é uma permissão também, é uma auto permissão. Então minha intuição também começou a funcionar e teve momentos assim na minha cabeça, que eu me lembro de ter entrado num mercado e pensar: “isso! Isso faz parte do que eu quero.”

Então, esses mitos de que existem poucas formas de ganhar vida. Isso foi a grande coisa que caiu a ficha na minha cabeça logo no começo. Porque existem milhões de formas de ganhar a vida. Cada pessoa que eu conheci tinha uma forma diferente, um jeito diferente, com negócios às vezes convencionais, às vezes não. Mas feitos de formas infinitas. Conversar, ler e estudar, bater papo, tomar uma cerveja junto com a galera local e comer em lugares locais, você tem uma troca muito grande. E não precisa ser numa viagem para o outro lado do mundo pode ser na esquina. Você permite essa troca se você está de fato interessado no que a pessoa está te dizendo. Aí você pode aprender um pouquinho aqui, um pouquinho ali, aí você vai construindo a sua verdade. Então o principal paradigma que caiu para mim foi esse. Das formas de ganhar a vida não existe nenhuma mais correta que a outra.

K3: E nesse seu processo de aflorar, como foi chegar no que você tá fazendo hoje? Conta pra gente um pouco o que você está fazendo. Como que esse processo foi se desenhando e em que etapa desse processo você está hoje?

TP:  Eu trabalho com alimentação. Desde da época que eu falei, há 6 anos atrás, que eu comecei a me interessar por empreendedorismo, eu sabia que ia ser no ramo de comida. Eu amo cozinhar, eu gosto de estudar a comida, gosto de estudar a relação de comida com saúde, então eu sabia que ia ser nessa linha. Então comecei a me jogar um pouco nesse mundo e comecei a estudar, a ler, comecei a comprar milhões de livros, ver documentários, estudar sempre da forma autodidata, nesse momento, eu não estava fazendo nenhum curso.

Então em 2013, eu fiz um curso incrível de culinária em São Paulo, um ano inteiro de curso.  Para me formar de verdade, aprender a base, tanto da prática quanto da teoria, mas eu queria aprender a base da culinária… Aí eu apaixonei completamente. Eu na cozinha, me sinto em casa. Me sinto pertencendo. Daí, eu cheguei à conclusão que ia ser isso mesmo, que ia ser com comida que iria trabalhar. Eu só não sabia o que. E nessas minhas viagens eu fiz vários cursos pelo mundo. Porque eu gosto muito de conhecer a cultura através da comida. O que me permitiu muitas trocas. Porque eu ia fazer um curso no país e acabava conhecendo gente de outros países (porque muitos desses cursos eram turísticos),mas também conhecia o professor, os auxiliares, os cozinheiros.

“E aí, eu cheguei depois de muitas informações, hoje eu trabalho com aula de culinária e terapia alimentar. Que é uma unificação da nutrição com a psicologia. Porque eu acho que existe um espaço em branco para ser ocupado. Porque a gente come para lidar com questões psicológicas. Então esse contexto todo é onde eu gosto de trabalhar.”

Eu adoro psicologia adoro nutrição. Então encontrei um ponto comum, que eu acho que pode ser muito explorado. A minha grande intenção é que as pessoas cozinhem mais em casa também. Que é o que eu fiz inclusive na viagem (como a gente ficava em casas, eu cozinhava muito. Tem muito da absorção da cultura local através dos ingredientes que você encontra no mercado. Esse programa turístico de ir no mercado é muito rico).

E eu cheguei nisso através de me ouvir, e tirar aquele lado do puramente exato (eu sempre fui e sempre gostei de ser mais racional, de ser mais exata e sempre me auto podei, o lado mais emocional, sempre segurei muito). E poder me libertar disso, o grande gatilho foi quando eu saí do trabalho corporativo, porque, você já foi do mundo corporativo, você sabe, que é um mundo mais masculinizado, mais racional. E quando eu saí, eu vi que eu podia enlouquecer.

Então essa combinação de fatores: de estar me ouvindo mais, de estar dando mais atenção para minha intuição. E aquele sentimento (tem uma palavra em inglês que eu gosto que é gut feeling). que vem do âmago… Então prestar atenção nisso, prestar atenção em mim me direcionou muito nesse caminho que eu estou trilhando agora.

E agora eu estou começando. Eu estou nessa aventura de começar a agir, de começar a execução, mas ao mesmo tempo estar planejando. Eu tenho minhas ideias formadas, mas já estou vendo que na prática não é assim que acontece. Então estou nesse começo dessa nova aventura que é empreender, construir uma empresa nova.

E a hora que a gente começa a empreender, a gente começa a ver o que é o mundo real. Quando você trabalha em empresas, principalmente em empresas grandes, (que são incríveis, que são escolas ótimas), mas você tá blindado do mundo real. Você tá muito blindada e a hora que você começa a colocar o pezinho no empreendedorismo, você começa a ver que o mundo real pode ser cruel e é difícil.  Mas é muito mais diverso também, assim como tem mais crueldade tem mais oportunidades também. Muitas oportunidades, que são essas formas de vida que eu falei. Eu tenho minhas referências de coisas que me interessam de coisas que eu aprendi, de coisas que eu escutei e tem a minha realidade. e o que eu estou galgando passo a passo. Então a hora que você conecta isso você começa a enxergar as oportunidades e eu tenho vontade de fazer muitas coisas. Eu preciso de umas três vidas para fazer tudo o que eu gostaria. Mas eu também tenho na minha cabeça que eu quero que essa veia workaholic, isso eu não quero mais. Eu quero dar atenção para o meu filho, eu quero ver ele crescendo, eu quero ter tempo para ele. E não só para ele, eu quero ter tempo para as minhas coisas, para as coisas que eu gosto de fazer. E o trabalho é uma delas.

“Não quero mais que o trabalho domine minha vida. Apesar de estar fazendo uma coisa que eu sou apaixonada, ainda assim é trabalho.”

Não é só cozinhar, tem todo o aparato por trás da empresa e esse aparato toma tempo. Então eu quero esse equilíbrio e diariamente poder balancear…

K3: E se você pudesse olhar sua vida e fazer uma retrospectiva e falar para alguém que está hoje na mesma situação que você estava há 6 anos atrás. O que falaria para essa pessoa? Qual conselho você daria para essa pessoa? Uma pessoa que tivesse começando a sentir aquele desconforto que você sentiu nessa época.

TP: De primeira eu falaria: “Vai!” Mas claro não é assim. É fácil falar agora que eu já fiz, então tenho outra perspectiva. Eu acho que eu falaria: “Quais são as suas prioridades? O que te encanta? O que você precisa para ser feliz?” Mas no sentindo um pouco mais profundo, no sentido um pouco mais racionalizado. Se de fato a pessoa já se conhece e sabe que o que está sentindo é uma angústia mais profunda, e não somente cansaço ou tédio, ou uma simples vontade de mudar. Se é uma coisa que realmente tem uma profundidade. E tá conectado com a essência dela, eu diria: “Investiga mais, porque aí tem coisa. Pare um pouco, vai investigar, vai conversar com pessoas, bater papo com pessoas que já fizeram uma transição, pessoas que não fizeram, pessoas que você admira ou pessoas que sejam referência ou algum profissional.

Mas hoje, eu falo com muita força: “Escuta sua intuição!” Porque eu acredito verdade que tem uma vozinha aqui dentro que fala com a gente e a gente sabe quando é intuição e quando não é medo, porque às vezes o medo também engana a gente. Aquela coisa que não te deixa dormir ou que você dorme pensando, acorda pensando… “ Vai atrás!” Pode ser uma viagem, pode ser um sabático, pode ser uma mudança de carreira simples. Menos drástica. Mas eu acho que é preciso abrir a cabeça e olhar um pouco mais o mundo, estando lá fora no mundo ou através de leituras, filmes, conversas, através de estudo, informação é o que não falta. É muito fácil você encontrar muito assunto físico ou digital.

“Então comece a se aprofundar e tente tirar um pouco medo da jogada. Porque o medo pode te travar para muita coisa boa.”

K3: Medo de sair da zona de conforto da segurança.

TP: É eu realmente saí da zona de conforto, eu não fazia ideia do que eu ia passar por esse vale emocional que eu passei, eu nunca imaginei que ia passar por isso. E valeu cada segundo de dificuldade que eu tive. De angústia e aflição. De medo, porque eu também tive medo… Imagine eu estava desempregada, com um filho. Mas temos que respirar fundo e pegar os medos, colocar no papel, pensar sobre eles e ver o que faz sentido, que não faz sentido. E o que faz sentido, fazer alguma coisa a respeito.

K3: Por isso que é importante essa autorreflexão. O que que está te motivando e o que está sabotando.

TP: Exatamente. Eu sou super grata por todos os meus anos de carreira corporativa. Isso me deu uma base, não só financeira mais uma base de vida. Eu sou quem eu sou, porque eu passei por tudo isso. Aprendizado imenso, pessoas incríveis que eu conheci. Que me ensinaram e me ensinam até hoje (porque eu tenho contato com muita gente ainda). São formas de ganhar a vida, são formas de viver a sua vida. Pode ser no mundo corporativo, pode ser fora dele. Pode ser empreendendo, pode ser viajando. Do jeito que você quiser. Mas tem que satisfazer a sua essência. Tem que ser de acordo com o que você de fato acredita. Porque você trabalhar com alguma coisa que você não está conectado com aquilo de fato, eu acho que é muito dolorido.

Eu Fiz alguns processos terapêuticos de tentar me colocar numa situação daqui 20, 30 anos. E olhando para trás, tentando entender qual é meu legado, o que eu fiz da minha vida. Eu vivi minha vida do jeito que eu gostaria de ter vivido. Qual é o exemplo que eu quero dar para o meu filho. E não é só a grana, a grana é consequência, na verdade.

Porque, de novo, mil formas de viver a sua vida e mil formas de ganhar dinheiro. E tudo tem um perrengue por trás. Tudo tem dois lados. Tudo tem sombra e Luz Assim como nós. Então abraça a sombra e vive a luz junto. Porque eu acho que as coisas acontecem melhor quando você coloca se coloca no trajeto da sua verdade. Mesmo com vários perrengues, que fazem parte e que ensinam muito. Passar pelas dificuldades, passar por esses cansaço físico, os cansaços emocionais que envolveram esse período sabático. Tudo isso foi essencial. Hoje eu sou uma pessoa muito mais flexível. Eu vivo com muito menos. Desde as coisas mais banais. Por exemplo as roupas que eu deixei no meu guarda-roupa por 18 meses. Já não fazem mais sentido eu ter. Então qual é o sentido de ter tanta coisa. Tanta coisa material, casa grande, carro. Carro para mim é uma coisa que eu questiono demais, já não faz mais sentido.

K3: O importante é ter essa reflexão para saber o que faz sentido para cada um de nós né. Porque às vezes a gente passa a nossa vida meio de acordo com a maré…

TP: Meio no piloto automático. E o tempo passa muito rápido. Meu filho vai fazer 4 anos. Parece que foi ontem que eu estava grávida, ontem que eu comecei a minha carreira. Eu tenho uma percepção de quando você começa a fazer as coisas que você gosta. Mudar sua vida e seguir um rumo que está de acordo com a sua verdade, até o tempo parece que passa mais devagar porque você não tem aquela percepção de “o que que eu fiz hoje?”. Fiz tanta coisa que eu nem sei o que que eu fiz. O dia passou e de repente são 8 horas da noite. Hoje eu sinto que os dias são mais longos porque eu tenho muita coisa para fazer. Coisas relevantes para mim. Eu estou começando uma empresa e preciso pensar em cada coisa em cada etapa. Eu planejo minhas atividades, com o horário que eu vou pegar o meu filho na escola, o horário que eu vou deixar ele na escola. Eu faço caber muita coisa no meu dia, mas não só de trabalho, eu faço muitas outras coisas. O dia fica muito mais produtivo.

“Não tem aquela coisa de entrei às 8 horas aí às 5 horas fiz um milhão de coisas, mas eu nem sei o que eu fiz. porque eu esqueci de mim nesse momento”

Porque eu fiz um milhão de coisas e não fiz nada como a consciência pessoal do que eu estou fazendo, de maneira geral. E essas coisas são relevantes para mim. Lógico que atividades chatas sempre vão existir, em qualquer atividade que a gente for fazer, mas sendo elas parte de uma atividade maior que que faz mais sentido para você, fica muito mais fácil fazer.

K3: Muito bom, Tati! Ótima conversa, super inspiradora, foi ótimo te rever.
Essa tua experiência fala bastante comigo, espero que fale também com bastante gente.

Conte conosco para desenhar, desde já, seu plano B e fazer uma transição de carreira suave.