Desde que começamos nosso processo de socialização somos moldados dentro de paradigmas do meio onde vivemos. Paradigmas que refletem na maneira como devemos nos comunicar, comer e alimentar, ou que indiquem a maneira como devemos conduzir nossa vida, nossas escolhas e objetivos.

Se você vive nesse mundo, é certo que você conhece o que é o paradigma do Guerreiro . Ele é o senso (comum) de que o objetivo maior da nossa existência é obter êxito, ter poder, acumular bens e vencer na vida. Ou seja, o meu êxito, precede o fracasso, a escassez ou mediocridade de um terceiro. Pois não há (…) para todos!!

E isso começa lá atrás, quando ainda crianças nós entramos nas duas principais instituições sociais e educacionais: a família e a escola. Ambas são as grandes responsáveis — atenção especial para essa palavra; não estou falando sobre culpados, estou falando sobre responsáveis — pelo o processo de transmissão dessa herança cultural, desse paradigma do guerreiro, do êxito e da escassez.

Para além do caminho da educação tradicional, todos que seguem/seguiram o caminho profissional tradicional, também sabem o que é esse paradigma.

Começamos a viver a ética guerreira já nos primeiros passos do ensino escolar formal, aonde nos dizem que precisamos acumular conhecimento, privatizar o intelecto, para obter notas efetivas nas avaliações e nos capacitar como alunos capazes de entrar no concorrido processo seletivo das universidades: o famoso vestibular.

Desde cedo, já somos condicionados e pressionados competir. E para os que acreditam que essa pressão termina após a tão esperada graduação, está enganado. A tendência é de que a pressão continue crescente — talvez você também tenha a lembrança de algum professor dizendo “Se liga! Quanto você formar, esses seus colegas vão ser todos seus concorrentes!”.

O Guerreiro precisa triunfar. E para isso, ele precisa de contar com as melhores armas  — a maior quantidade possível  — e de camadas e camadas de armaduras intransponíveis. Se o Guerreiro tiver êxito, alguém perde a luta no processo. Se ele fracassar, presume-se que alguém triunfou em seu lugar, tornando frustração dobrada.

E essa maneira de pensar tem consequências. A mais óbvia e que todos conhecemos é a crescente pressão e stress que vivemos por nunca ser ou ter o suficiente.

Mas o que não percebemos é que apesar da escassez de qualquer recurso criar uma mentalidade que, a primeira vista, parece positiva (testes mostram que somos mais produtivos quando o prazo está chegando ao fim e quem tem o dinheiro curto sabe melhor o preço das coisas), quem vivencia situações de escassez tem sua mente aprisionada por aquilo que está faltando.

Quando se coloca um grupo de pessoas para ver uma série de palavras em alta velocidade e tentar identificá-las, quem está de dieta tem mais facilidade para ver nomes de comida; solitários tem mais facilidade para entender expressões faciais.

De acordo com Sendhil Mullainathan e Eldar Shafir, autores do livro “Escassez”, quando se vivencia a escassez, entra-se em um túnel. Toda a atenção é dirigida a apenas um tema e negligencia-se o que é importante, mas não urgente.

Exemplo: a escassez de tempo que os bombeiros enfrentam para lidar com emergências faz com que as estatísticas de morte destes profissionais em serviço por falta de uso de cinto de segurança sejam alarmantes, bem acima da média nacional.

Outro estudo mostra que plantadores de cana na Índia se saem melhor em testes de QI logo após a colheita, quando estão com mais dinheiro, do que quando a colheita está longe e a situação financeira é pior.

Uma vez instaurada a mentalidade da escassez, é muito difícil manter a perspectiva e não sucumbir a visão de túnel, por isso é tão importante controlar a influência desse paradigma na nossa vida, de que nosso único propósito é vencer na vida. E se um vence, outro perde… E que no mundo só existe escassez…

É preciso enxergar a abundância!!

É preciso enxergar o valor da colaboração!!

É preciso enxergar o que é realmente importante para nós para pode alcançar nosso potencial e uma vida plena!

 

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